sábado, 16 de janeiro de 2016

A Cura do Paralítico de Cafarnaum

Cafarnaum, vem do hebraico כְּפַר נַחוּם Kfar Nachum, ou seja, aldeia de Naum.
Era uma aldeia de pescadores que está situada a noroeste das margens do Mar da Galiléia, um grande lago de aproximadamente 21km de comprimento por 12km de largura.
Local de uma importantíssima atividade comercial da época, a atividade pesqueira.
Havia também em Cafarnaum, uma alfandega, uma guarnição e ao menos uma sinagoga.
Cafarnaum estava na região do caminho que conduzia à Assíria, ou seja, na rota principal de todo oriente, que alcança o Mediterrâneo e o Egito. Jesus morou em Cafarnaum, assim como alguns de seus discípulos (Pedro, Tiago, André e João).
o paralitico de cafarnaumO Paralítico de Cafarnaum foi Baixado pelo Telhado por Quatro Amigos.

Neste texto que narra a cura do paralítico de Cafarnaum (Marcos 2:1-12), Jesus lida com vários grupos, presentes em qualquer reunião em torno do mestre. As pessoas nesta reunião tinham, em seus corações, intenções diferentes.
Naquele dia havia muitos que foram para ouvir a palavra de Deus. Queriam ouvir de bom grado, algo novo da parte de Deus. Tinham sede e fome da palavra e a guardavam em seus corações.
Havia os convidados por amigos, parentes e familiares. Eram incentivados a ouvir a palavra de Deus. Acontece nos dias de hoje ainda. Quantas pessoas só vão à uma reunião por muito esforço daqueles que os convidam.
"E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto à porta cabiam; e anunciava-lhes a palavra." Marcos 2:2.
Outro grupo, era daqueles que traziam pessoas. Vede os quatro homens que trouxeram aquele paralítico. Há muitos que fazem isso. Gente que trabalha na obra. Oram constantemente para que Deus salve e ou transforme um familiar, um amigo. Esse pessoal é perseverante e injeta ânimo nas pessoas!
Havia aqueles que estavam ali por suas "próprias pernas". Não precisou de ninguém convidar. Mas estavam ali somente para ver se Jesus cometeria algum erro. Estavam ali só pra ver se ele falaria alguma blasfêmia, para que o acusassem depois. Ouviam tudo de mau coração. Não retiam nada do que era ensinado. Assim agiam os escribas e fariseus.
Jesus com sua imensa sabedoria, discernia tudo e a todos. Cada grupo e cada pessoa era tratada de uma forma completa e individual. Para cada necessidade havia uma resposta certa do nosso senhor.
Mapa de CafarnaumO Paralítico de Cafarnaum na Galiléia.

Muitas vezes Jesus havia realizado curas e milagres diretamente, entretanto com o paralítico de Cafarnaum, ele faz uma declaração de perdão primeiro.
E esta declaração causa um alvoroço entre os presentes. Muitos não puderam entender ao que Jesus se referia. Porque não simplesmente declarar a cura? Qual a real necessidade de primeiro perdoar pecados?
"E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, perdoados estão os teus pecados" - Marcos 2:5
Alguns escribas tomaram aquela declaração como provocação à sua religiosidade. "E estavam ali assentados alguns dos escribas, que arrazoavam em seus corações, dizendo: Por que diz este assim blasfêmias? Quem pode perdoar pecados, senão Deus?" Marcos 2:6-7
Porém essa nunca foi a intenção de Jesus. Na verdade o mestre conhecia a vida do paralítico de Cafarnaum de uma forma muito mais intensa do que eles imaginavam. Jesus estava a tratar dos sentimentos profundos da alma.
A sociedade judaica da época era muito preconceituosa. Fardos difíceis de levar, pesados demais eram impostos pela religiosidade dos escribas e fariseus. Não conseguir seguir e cumprir todos aqueles "mandamentos" que lhes eram imputados, significava uma vida de desonra.
E quem sabia da culpa que o paralítico de Cafarnaum carregava consigo mesmo? Uma vida de culpa. Não conseguiu ser um "bom judeu", um bom marido, um bom pai, um bom filho. Quem sabia da tristeza e a vergonha ou a mágoa que levou aquele homem a ficar preso a um leito de dor?
Quantas pessoas que por causa de uma mágoa, escondida lá nos recantos mais ocultos do coração, acabaram acometidos de emoções e ressentimentos que levaram até mesmo ao derrame cerebral. Por final tornaram-se paralíticos também.
O grande Mestre sabia de tudo isso. Jesus com seu olhar de misericórdia, vê aquele homem, paralítico, com o coração cheio de culpas, quanto sofrimento guardado! "Filho, perdoados estão os seus pecados". Ali o mestre estava tratando a causa da enfermidade. Certamente seu coração encheu-se de esperança e, o paralítico de Cafarnaum pôde novamente se sentir como um filho de Abraão também.

Muitas pessoas buscam algo da parte de Deus. A cura de uma enfermidade, ainda que benéfica e esperada, é algo passageiro.Todos um dia adoecerão e morrerão. Porém o perdão constrói uma ponte para a salvação, um dom eterno.
"Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder para perdoar pecados (disse ao paralítico), A ti te digo: Levanta-te, toma o teu leito, e vai para tua casa" - Marcos 2:10-11
Desta forma, o Filho do Homem mostra que seja qual for o seu pecado, seja qual for a sua culpa, não permita que isso cresça e domine a sua vida. Aproxime-se de Deus. Confesse à ele os teus pecados e você ouvirá a voz misericordiosa de perdão.
Quanto aos que trazem pessoas à Jesus. Você que tem orado, pedido a Deus pelo seu filho, por seu marido, por sua esposa ou quem sabe alguem que você conheça. Você que pede a Deus pela salvação ou libertação de uma pessoa.
Mesmo que isso pareça depender de um milagre. Lembre-se de que Jesus curou aquele homem, vendo a fé daqueles que baixaram o paralítico de Cafarnaum pelo telhado.
Portanto não desista! Continue firme em sua fé, pois todo esforço será recompensado!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Derrubando Muralhas

Uma das histórias mais bonitas da blíblia, esta que nos fala sobre o cego de Jericó. Certamente Bartimeu soube também como "derrubar as muralhas" que cercavam sua vida. Bartimeu,cego de nascença, não possuía nome próprio.
Bartimeu é uma designação hebraica para o termo "filho de Timeu". Ele vivia em uma sociedade dominada pela crença no conceito da "causa e efeito".
Os judeus acreditavam em padecimento por enfermidade de nascença, diretamente ligada a seus próprios pecados ou pelos pecados de seus pais.

Bartimeu o Cego de Jericó 

Muito preconceito e discriminação Bartimeu sofria. Sempre lembrado por sua condição de cego, da acusação de ser um pecador. Era a vergonha de seus pais e desgraça da família. Segundo o que acreditavam os judeus, um sinal da visitação de Deus à maldade humana, uma espécie de maldição hereditária.
Deixado por seus pais, à beira do caminho mendigava. Não possuía casa, nunca saberia o que é ter um lar com esposa, filhos, netos. Imagino seus complexos, seus questionamentos. Vivendo na solidão das trevas, isolado dos homens por preconceitos que se assemelhavam às muralhas que séculos atrás circundaram aquela cidade.
 Jericó e o cego bartimeu
Vista Panorâmica de Jericó onde o Cego Bartimeu Morava.
Difícil entender esta postura judaica da época, pois muitas vezes Deus havia falado por meio da lei e dos profetas, sobre o cuidado especial e o amor que os Israelitas deveriam dispensar aos portadores de necessidades especiais. Há também mandamentos recomendando a divisão e a distribuição de alimentos e mantimentos para os necessitados.
"Aquele que tiver duas túnicas reparta com aquele que não tem e quem tiver alimentos, faça de igual forma." - Lucas 3:11
Ignorando os mandamentos divinos, os judeus como que erguiam barreiras sociais entre si que se chegavam à muralhas psicológicas intransponíveis.

As Muralhas de Jericó

Jericó está situada cerca de 27km de Jerusalém, ao lado ocidental do rio Jordão, próximo a uma região montanhosa que conduz à serra de Judá. Também conhecida como cidade das palmeiras, é uma região de solo fértil, propício à agricultura.
As aguas do rio Jordão atraíam animais, que o fazíam de bebedouro. Um ótimo local para fixar habitação, o que fez com que seus primeiros habitantes buscassem proteção contra invasão de outros povos. Uma das soluções aplicadas foi a construção das antigas muralhas de Jericó.
As muralhas de Jericó mediam cerca de 10m de altura e tinham cerca de 4m de largura. Eram dois grandes muros com um espaçamento de cerca de 3m entre ambos. Eram tão grandes e imponentes que sustentavam casas transversas entre os dois muros, como a da prostituta Raabe.
muralhas de jericó
Josué derruba as Muralhas de Jericó

Bartimeu e a Queda das Muralhas de Jericó

A história da queda das muralhas de Jericó nos ensina um meio poderoso para vencer dificuldades e problemas tidos como insolúveis. Certamente o cego Bartimeu conhecia esta história e aplicou este ensinamento para mudar o curso de sua vida.
A bíblia nos informa que no passado, após terem circundado as muralhas por sete dias, ao sétimo dia, Josué e o povo circundaram a cidade sete vezes. Ao término da sétima volta, após o toque das trombetas, houve um grande brado de todo o povo de Israel. Este brado, ou seja, as suas vozes reverberaram para derrubar as muralhas de Jericó.
Jesus quando de sua aproximação de Jericó, sabia que encontraria muralhas ainda maiores que aquelas vencidas por Josué. As de Josué ao menos eram tangíveis, feitas de pedras, tijolos e etc. As que Jesus estava por enfrentar não podiam ser palpadas, não podiam ser vistas, mas estavam bem ali no coração do homem, encarcerando vidas. Muralhas do preconceito e discriminação, fazendo acepção e separação das pessoas.
Contra estas muralhas não se podia usar armas físicas. Não era possível utilizar máquinas ou explosivos. Ao tempo que estas barreiras estão alicerçadas no coração humano, somente fé e clamor são eficazes.

A Cura do Cego de Jericó

Assim como o povo de Deus no passado, houvera usado suas vozes, clamando com grande brado para que se derrubasse as antigas muralhas, assim da mesma forma Bartimeu clamando em alta voz, não se importou com aqueles que mandaram que se calasse. Antes continuou clamando. Sabia ele que esta é a chave da vitória.
Naquele momento, o brado de Bartimeu, ou seja o seu clamor, reverberou contra as muralhas do preconceito e discriminação.
"A um coração quebrantado e contrito tu não resistirás, ó Deus" - SL51:17
A oração e o clamor de um justo "pode muito em seus efeitos". Diz a bíblia que o clamor de Bartimeu chegou ao mestre dizendo "filho de Davi, tenha misericórdia de mim".
Por causa do clamor de Bartimeu, Jesus não pôde resistir, utiliza de seu grande poder e restaura a visão e a dignidade do cego de Jericó. O nosso Mestre derruba agora as muralhas do preconceito e insere Bartimeu na sociedade Israelita.
Acabou aquela vida miserável. Acabou aquele sentimento de culpa, de maldição hereditária, carregada com tanto peso. Agora somente o jugo suave e o fardo leve.
Jesus dá uma lição que aquela sociedade e os seus discípulos jamais esqueceriam, não podemos nos isolar em conceitos e preconceitos e deixar de enxergar que o amor, a misericórdia e o perdão devem estar em primeiro lugar em nossos corações.

A Sunamita e Seu Filho, os Sonhos de Deus Não Morrem

Uma das histórias mais comoventes da bíblia é esta sobre a Sunamita. Uma mulher de nome desconhecido, mas que o seu testemunho de vida atravessou milênios, em um verdadeiro exemplo de fé.
Ela lutou pelo seu sonho, não deixou morrer a esperança, passou momentos difíceis, mas confiou em Deus e não se decepcionou.
A história da Sunamita ocorreu aproximadamente entre 874 - 782 antes de Cristo, época em que apareceu no reino do norte de Israel o profeta Eliseu, que foi discípulo de Elias.
O nome pelo qual ficou conhecida vinha da cidade de Suném, que traduzido significa [declive], pois Suném estava localizada em uma elevação de terras a cinco quilômetros ao norte do vale de Jezreel.
Rodeada por cactos e pomares, logo a sua frente estava o monte Carmelo, onde Elias lutou com os quatrocentos profetas de baal. Bem próximo ao sul, podia se ver o caminho inclinado que levava ao monte Gilboa.
De Suném se contemplava toda a planície de Jezreel, uma rica área agrícola. Muitos fazendeiros moravam no vale de Jezreel. O solo fértil favorecia o crescimento dos grãos, proporcionando grandes colheitas, o que acentuava o contraste entre a fertilidade do local, com a infertilidade que sofria a Sunamita.
Este vale havia sido palco da batalha entre os filisteus e os exércitos do rei Saul.
o monte carmelo e o vale de jezreel vistos de sunémA Planície de Jezreel com o Monte Carmelo ao Fundo, Vistos de Suném.

E o profeta Eliseu exercendo seu ministério, saía frequentemente de sua casa em Samaria e percorria cerca de 56 quilômetros para chegar ao monte Carmelo, local de seu retiro espiritual, onde se dedicava a oração, buscando a orientação de Deus.
Era uma viagem longa e cansativa, consumia muito as energias de Eliseu e seu moço, Geazi. Eliseu e Geazi, entretanto, para chegarem ao Carmelo (525m de altura), sempre passavam por Suném. E a Sunamita certamente observava ainda de longe, o profeta e seu discípulo, que estavam constantemente em peregrinação por aquelas terras, para buscar a Deus.
O interessante é que a Sunamita enxergou algo que toda uma cidade deveria ter visto, mas não viu. Suném era uma cidade próspera em que seus habitantes poderiam ter facilmente oferecido alimento e abrigo para um homem que estava a serviço de Deus em benefício de toda uma nação.
"Sucedeu também um dia que, indo Eliseu a Suném, havia ali uma mulher importante, a qual o reteve para comer pão; e sucedeu que todas as vezes que passava por ali entrava para comer pão." 2 Reis 4:8
"E ela disse a seu marido: Eis que tenho observado que este que sempre passa por nós é um santo homem de Deus." 2 Reis 4:9

E a Sunamita tem esse discernimento espiritual. A sua atitude de ajudar o profeta Eliseu e Geazi refletia o zelo e o amor a Deus, que ela possuía em seu coração. Ela era uma mulher bondosa e hospitaleira. E as escrituras mostram que no passado, pela hospitalidade, os servos do Senhor haviam hospedado anjos, sem saber.
E ela pensava que ter o homem de Deus em sua casa representava uma oportunidade de um maior contato com o espiritual. Pra ela, fazer o bem ao homem de Deus era como se estivesse honrando ao próprio Deus.
Então, a Sunamita em uma atitude de amor para com Deus e o seu profeta Eliseu, pede a seu marido que construísse um quarto na parte superior da sua casa, onde poderia abrigar Eliseu. O acesso ao piso superior da casa era feito por uma escada pelo lado de fora do imóvel.
E o cômodo de cima era muito mais fresco e ventilado, e oferecia um melhor isolamento do barulho e sons que vinham da rua. Eliseu não seria incomodado e teria mais privacidade para buscar a Deus em suas orações.
"Façamos-lhe, pois, um pequeno quarto junto ao muro, e ali lhe ponhamos uma cama, uma mesa, uma cadeira e um candeeiro; e há de ser que, vindo ele a nós, para ali se recolherá." 2 Reis 4:10
Ela pôs os seus bens à serviço do Senhor, pois para a Sunamita as coisas espirituais eram de grande valor, importavam mais do que as materiais. E Eliseu vendo a sua dedicação, lhe faz uma última prova de fé. Oferece recompensas materiais ou honras sociais.
Parece aqui muito com a mesma prova que Jesus direcionou ao cego Bartimeu em Jericó.
"Então Jesus, parando, mandou que lho trouxessem; e, chegando ele, perguntou-lhe, Dizendo: Que queres que te faça? E ele disse: Senhor, que eu veja." Lucas 18:40-41

Mas a resposta da Sunamita revela muito do que estava em seu coração. Ela valorizava a vida, o amor, a família. Não estava preocupada em adquirir mais bens materiais, posição social ou títulos honoríficos. Ela reconhecia o valor imensurável da reunião familiar, o capital imponderável da felicidade de estar entre amigos.
"Haverá alguma coisa de que se fale por ti ao rei, ou ao capitão do exército? E disse ela: Eu habito no meio do meu povo." 2 Reis 4:13
a sunamita hospeda o profeta eliseu e seu moço geaziA Hospitalidade da Sunamita, Abrigando Eliseu e Geazi.

Eliseu ouve o sábio conselho de Geazi que lhe informou que a Sunamita não tinha filhos, um antigo sonho dela, que desejou tanto, imaginou as roupinhas do bebê, podia até ver uma linda criança correndo pelos corredores da casa. Mas era apenas um sonho, esquecido, relegado ao passado.
Mas Deus contemplava a sua generosidade e a sua hospitalidade, a dedicação em servir ao Senhor através da ajuda que oferecia ao seu servo Eliseu. E esta atitude de amor para com o homem de Deus, gerou uma promessa, que ela mal podia acreditar; a Sunamita nunca esperou tamanha benção.
E dentro de um ano a promessa de Deus se cumpriu, porque amor gera vida, paz e alegria. Ela concebeu e deu à luz um lindo e abençoado menino, filho da promessa, tal qual foi Isaque para Abraão e Sara.

Agora aquele lar frio se enchia do calor do sorriso de uma criança. Uma família completa e feliz. Em Israel, um filho era considerado a maior benção e alegria que um pai e uma mãe poderiam alcançar. A mulher que não tinha filhos ficava profundamente envergonhada na sociedade.
E a lei judaica dava ao marido direito de se divorciar, caso a sua esposa não pudesse lhe dar um descendente que levaria o seu nome adiante. Mas tudo isso agora estava superado pois, Deus havia lhe dado o presente perfeito, o presente que ela realmente precisava.
Este foi o sonho que a Sunamita escolheu para sonhar, um lar simples, mas feliz, uma família debaixo das bençãos de Deus. E o menino crescia nos caminhos do Senhor. Toda vez que ela olhava para seu filho, se lembrava da promessa de Deus se cumprindo na sua vida. Era lindo!
"E concebeu a mulher, e deu à luz um filho, no tempo determinado, no ano seguinte, segundo Eliseu lhe dissera." 2 Reis 4:17
E o seu filho era uma benção. Ensinado na Lei do Senhor, obediente, ajudava ao seu pai no trabalho. Certamente na ansiedade de querer retribuir todo o amor e o carinho recebido de seus pais, este menino trabalha duro se expondo muito ao sol, mas ele ainda não tinha um preparo físico adequado, não estava acostumado ao trabalho árduo.
O sol de verão é muito forte naquela região, faz muito calor. Muitos estudiosos acreditam que o filho da Sunamita tenha sofrido de insolação, que dependendo da intensidade da exposição ao calor, pode levar à morte, principalmente em jovens e idosos.
"E, crescendo o filho, sucedeu que um dia saiu para ter com seu pai, que estava com os segadores, E disse a seu pai: Ai, a minha cabeça! Ai, a minha cabeça! Então disse a um moço: Leva-o à sua mãe." 2 Reis 4:18-19
E o menino é levado à sua mãe. Depois de algum tempo ele vem a falecer. Momentos terríveis passou aquela mulher, era o vale da sombra da morte. Ver seu único filho, quem ela amamentou com tanto zelo, muitas vezes acordando no meio da noite. Ela deu amor, deu carinho, ensinou as primeiras palavras, os primeiros passos.
E ele estava ali, nos seus joelhos, ela podia sentir a sua vidinha pouco a pouco se esvaindo, sem poder fazer nada. Eu particularmente não posso nem imaginar a dor que seja passar por uma situação como essa.
E a Sunamita olha para o seu filho, o seu sonho de ter uma família, agora frio, gelado, morto em seu colo...

Mas se estava passando pelo vale da sombra da morte, ela não temeu. Ela não aceitou a morte do seu sonho! Tomando-o em seus braços, o põe carinhosamente na cama do profeta Eliseu, e parte para um duro embate, um caminho longo, uma jornada de 24 quilômetros na estrada que subia até o monte Carmelo, para recuperar a vida de seu filho, fruto da promessa de Deus.
Ao longe ela responde ao profeta com palavras que demonstravam a sua certeza, a fé de que a vida do seu filho seria restaurada. A frase "vai tudo bem", faz me lembrar da resposta de Abraão ao seu filho Isaque, quando este iria oferecê-lo em sacrifício a Deus.
"E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos." Gênesis 22:8
Ao chegar diante de Eliseu, ela se prostra com o coração quebrantado. E Eliseu sendo um homem poderoso em palavras e obras, nos deixa também uma lição de humildade aqui. Ao invés de tentar "dar uma de advinho", ele reconhece que Deus não havia lhe revelado o que estava acontecendo naquele momento.
"Chegando ela, pois, ao homem de Deus, ao monte, pegou nos seus pés; mas chegou Geazi para retirá-la; disse porém o homem de Deus: Deixa-a, porque a sua alma está triste de amargura, e o SENHOR me encobriu, e não me manifestou." 2 Reis 4:27
Eliseu então manda o seu discípulo Geazi por o seu bordão sobre o rosto do menino morto. Mas há tarefas que não são para Geazi realizar. Certas coisas exigem a presença do homem de Deus. A Sunamita sabia disso, e luta por seu filho, insistindo com o profeta que não o deixaria enquanto ele não fosse com ela.
Eliseu vendo a disposição e a fé dela, levanta-se e a acompanha. Geazi que foi na frente deles, volta com notícias não muito boas, o bordão não funcionou. Algo parecido havia acontecido também com Jairo, quando buscava pela ajuda de Jesus e os seus familiares chegaram dizendo que sua filha já estava morta, ao que o Mestre lhe deu a boa instrução: Crê somente.

O bordão de Eliseu não funcionou porque para se ressuscitar sonhos é preciso intercessão, súplicas e "calor humano". Eliseu teve que orar de portas fechadas, pois "ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente." Mateus 6:6.
É preciso insistência, "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." Mateus 7:7. Eliseu após a oração, transmite "calor" ao jovem através do contato direto com o morto. Uma simbologia de que não podemos nos isolar daqueles que estão "mortos espiritualmente", necessitando da nossa ajuda.
Tal como Jesus, Eliseu não temeu a impureza cerimonial da Lei, mas voltou a deitar-se sobre o menino, aquecendo-o novamente e transmitindo-lhe vida. Muitas vezes é preciso agir de igual forma, abraçando com muito amor os pecadores, a quem desejamos ver "ressuscitados".
"E subiu à cama e deitou-se sobre o menino, e, pondo a sua boca sobre a boca dele, e os seus olhos sobre os olhos dele, e as suas mãos sobre as mãos dele, se estendeu sobre ele; e a carne do menino aqueceu." 2 Reis 4:34
A fé da Sunamita foi honrada, o sonho de Deus não morre, temos que ter fé. Ela humildemente agradece e entra para a história de Israel como uma mulher sábia e de fé.

Eu sei que há muita gente com os sonhos morrendo, gente que perdeu tanta coisa na vida, e chega até aqui sem nem saber como. Talvez o seu sonho esteja esquecido, no passado, você já nem se lembra mais o que é poder sonhar.
Quem sabe o seu sonho é ver aquela pessoa amada ou um familiar transformado, "ressuscitado" espiritualmente, liberto das drogas, dos vícios e do pecado. Mas você precisa tomar uma decisão hoje. Veja, a Sunamita decidiu firmemente que ela não aceitaria a morte da promessa de Deus na sua vida, e partiu num longo caminho até o profeta.
O caminho da restauração é longo e difícil. O Primeiro passo da Sunamita foi a transformação dela mesma. Resolveu confiar em Deus e se dedicar ao amor quando ainda nem tinha a perspectiva de ter um filho.
Jesus sempre alertou aos seus discípulos que a maior arma que vence o mundo é o amor. Resolva amar. Renuncie à violência, renuncie às discussões, renuncie aos desentendimentos. E tenha atitudes de amor, perdoe, abrace, transmita calor humano e vida.
E ore. Confie no Senhor, Ele renovará as suas forças.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Parábola do Filho Pródigo

O Filho Pródigo é uma das histórias mais contadas e recontadas da bíblia. Muito conhecida a Parábola do filho pródigo.
O texto do livro de Lucas 15:11-32, nos apresenta dois personagens com comportamentos distintos, porém ambos levam o homem à perdição:
O Imoral, representado pelo filho pródigo, que deixa o seu pai, e parte para uma cidade distante, em busca de satisfazer seus desejos carnais; e o Moralista Religioso, aqui representado pelo Irmão Mais Velho, um filho certinho, mas que não tinha um mínimo conhecimento do amor do Pai.

Na cultura judaica da época de Jesus, a família era baseada no formato patriarcal. O pai possuía uma imagem muito forte na sociedade. O pai judeu era a figura do pai dono da fazenda, do pai patrão, aquele pai que é senhor da família, todas as decisões giravam em torno dele.
Nenhum dos filhos ousaria questionar sua autoridade, sob pena de ser deserdado, banido do seio familiar e de suas heranças. Além de ser mal visto por toda comunidade vizinha.
Jesus em seus ensinamentos, apresentava Deus como o pai celestial. Isso ia de encontro à imagem do pai "severo" da cultura judaica, pois Jesus tratava com amor todos pecadores.

"E Chegavam-se a ele todos os publicanos e pecadores para o ouvir. E os fariseus e os escribas murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles."
Lucas 15:1-2
Observando todo capítulo 15 de Lucas, vemos que em resposta a estas murmurações, O mestre começa a contar uma série de parábolas que descrevem o caráter do "pai celeste".
"E disse: Um certo homem tinha dois filhos; E o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me a parte dos bens que me pertence. E ele repartiu por eles a fazenda."
"E, poucos dias depois, o filho mais novo, ajuntando tudo, partiu para uma terra longínqua, e ali desperdiçou os seus bens, vivendo dissolutamente." Lucas 15:11-13
O retorno do filho pródigoO Filho Pródigo Retorna ao Pai.

A primeira característica, que o filho pródigo apresenta, é um rompante de autodeterminação. Agora ele quer ser o dono de sua vida, dono de seu destino.
Ele quer ter o poder de decidir o que fazer com sua vida, da forma que lhe agradar, da maneira que lhe convier. Quer decidir com quem sair, onde ir, a que horas voltar e se voltar pra casa. É o tipo "eu sou dono do meu nariz e faço o que quero com minha vida".
Muitas pessoas tem ainda esse tipo de rompante. Maridos e ou esposas que largam o casamento, e passam a viver sua "próprias vidas", recuperando o "tempo perdido". Literalmente "chutam o balde", partindo em busca de prazer.
A segunda característica desse filho pródigo é a tentativa de se afastar ao máximo, para um lugar onde os ecos da voz do pai não pudessem constranger o seu modo de viver dissoluto.
E assim o filho pródigo vai de prazer em prazer, de farra em farra, de prostituta a prostituta, de motel em motel, de bebedeira em bebedeira. Gastando e consumindo tudo o que tem, procurando mais prazer, no culto ao corpo, no culto de si mesmo.
Na procura de uma felicidade, uma satisfação de seus próprios instintos, cria quase que um buraco negro no peito, que segue devorando todos os seus recursos físicos e psicológicos. Uma tentativa desesperada de preencher esse vazio.
Porém há limites para o prazer humano. Há limites para o prazer carnal. Uma vida de culto ao corpo e ao prazer nunca poderá trazer a verdadeira felicidade.

Não podemos esquecer nesta história, do irmão mais velho. Este rapaz que a bíblia apresenta como o irmão certinho, bom moço. Faz tudo que o pai determina. Cumpre religiosamente todas as ordens do pai, mas se aborrece quando soube da volta do irmão amoral. Este personagem também representa um tipo distinto de pessoa.
Uma das características, que o "irmao mais velho" apresenta, é a falta de alegria na vida. Ele cumpria estritamente as ordens do pai. Sabia tudo sobre o trabalho na fazenda. Conhecia o nome de todos empregados. Contava todos os animais, só não conhecia o pai.
Tinha toda fazenda a sua disposição, mas não enxergava nenhuma possibilidade de festejar. Fazia tudo como que por obrigação! Estava "vivendo como um mendigo sentado em um pote de ouro". Era como que mecanicistas religiosos, cheios de rituais vazios que não trazem uma gota de alegria.
Este não sabia se alegrar e entrou em crise ao ver a festa do pai para o irmão. Não conseguia ver a alegria do irmão como uma oportunidade de se incluir nela.
"E o seu filho mais velho estava no campo; e quando veio, e chegou perto de casa, ouviu a música e as danças. E, chamando um dos servos, perguntou-lhe que era aquilo.
Tem gente que não tem alegria na vida e entra em crise quando ve alguém que se alegra nas mais simples coisas.
E ele lhe disse: Veio teu irmão; e teu pai matou o bezerro cevado, porque o recebeu são e salvo. Mas ele se indignou, e não queria entrar." Lucas 15:25-28
Outro fato, é que o irmão mais velho não havia deixado o pai. Estava todo o tempo com o pai, porém não conhecia o pai como pai. Tinha pra si o pai, como um pai da cultura judaica, um pai patrão.
irmão mais velho sem esperançaO Irmão Mais Velho Sem Alegria.

A salvação do filho pródigo passa pelo entendimento do significado do mundo. Prazer após prazer, muitos amigos, festas e tudo mais. Porém quando tudo é consumido, quando todas as reservas materiais acabam, os amigos somem.
Acabou cuidando de porcos, desejando se alimentar da comida dos porcos, porém ninguém lhe dava nada! Assim é o mundo, não se enganem!
E a salvação do filho pródigo passa também pelo reconhecimento de sua condição.
Vejam que Jesus narra que este filho pródigo "cai em si". Isto é, ele pensa "o que eu estou fazendo aqui meu Deus?". Ele volta ao "eixo" da vida.
E este "cair em si" é algo que satanás tenta de todas as formas evitar que aconteça com o ser humano. Ele cega o entendimento dos homens para que eles continuem respondendo somente a instintos, emulações, vontades carnais e nunca reconheçam o seu estado pecaminoso.
"E, tornando em si, disse: Quantos jornaleiros de meu pai têm abundância de pão, e eu aqui pereço de fome!" Lucas 15:17
Mais adiante, vemos pelo texto que todo o processo do perdão, começa no pai. O pai quando viu o filho ainda longe, correu ao encontro do filho pródigo e o beijou! Que coisa linda!
"E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou". Lucas 15:20
Assim, Jesus forma aqui a imagem da contra-cultura do pai oriental. Um pai misericordioso, um pai de amor. Um pai que oferece perdão sem pedir nada em troca. Veja que o filho pródigo tinha em mente uma confissão "dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o céu e perante ti..."
Porém o pai interrompe o fluxo da confissão e o filho não consegue dizer a parte do"torna me como um dos teus jornaleiros".
Ou seja, o pai está dizendo, "deixa disso meu filho, tu és meu filho, eu sou o teu pai, tudo está perdoado".
"E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho." Lucas 15:21
"Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés;" Lucas 15:22
Este pai que Jesus apresenta é um pai que vira a mesa por seu filho! Um pai que se move de íntima compaixão pelo seu filho perdido é a contra-cultura do pai que os fariseus pregavam.

"Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado".
A salvação do irmão mais velho passa pelo reconhecimento do irmão amoral. Ou seja, Jesus quer mostrar para os fariseus a necessidade de que eles se arrependam também e vejam que aqueles pecadores são também filhos de Abraão.
"Disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;" Lucas 15:29
E a salvação do irmão mais velho passa, também, pelo conhecimento do pai, visto que esse irmão mais velho pensa que serve a um patrão, do qual ele se concebe como escravo.
O pai que o irmão mais velho conhece é um pai mesquinho e não tem capacidade de fazer um ato mínimo de generosidade. Um pai que faz questão das mínimas coisas.
O irmão amoral, o filho pródigo, ao menos se lembrava do pai como pai e acreditava na possibilidade da misericórdia do pai.
"Filho, tu sempre estás comigo, tudo que é meu é teu".
Esta é a resposta do pai, ou seja, Jesus afirma que Deus é nosso pai. Não o pai que os fariseus acreditavam, mas sim um pai que diz:"Filho, tu sempre estás comigo, tudo que é meu é teu".
Talvez você conheça Deus como seu senhor. Talvez você conheça Deus como juiz, como fogo consumidor. Quem sabe você pensa em Deus como criador de tudo.
Gostaria de que você entendesse que Deus é isso tudo, porém antes de tudo isso, ele é seu pai!
Deus é seu pai! E Deus é um pai misericordioso! Deus é um pai de amor!
Ele é seu pai!